Você já percebeu que o clima parece “fora do normal” ultimamente? Fenômenos como chuvas mais intensas, ondas de calor mais longas e até mesmo secas inesperadas tornaram-se cada vez mais recorrentes. As mudanças climáticas não são uma ameaça distante; elas já são realidade! E estão transformando a maneira como vivemos e interagimos com o ambiente, afetando não apenas a natureza, mas também a nossa sociedade, com consequências para a economia, a saúde e a infraestrutura.
Mas o que exatamente a ciência tem a ver com isso, além de, claro, ter dado o “mau presságio” por anos? A ciência não apenas confirma que a influência humana no sistema climático é evidente, mas é a ferramenta essencial que usamos para entender os impactos e, ainda mais importante, encontrar as soluções plausíveis.

O Impacto Visível no Dia a Dia
1. Saúde e Bem-Estar
O aumento da temperatura global intensifica fenômenos como as ondas de calor extremo, que estão diretamente associadas ao aumento de mortes por doenças respiratórias e cardiovasculares, principalmente em idosos, de acordo com a CNN (2024). Além disso, o aumento da temperatura favorece a proliferação de vetores de doenças, como mosquitos, intensificando a incidência de dengue e malária (Portal do Butantan) e até mesmo alterando a ecologia de outros vetores, como ratos e carrapatos. O trauma emocional de desastres como enchentes e secas também gera consequências profundas, como o aumento nos casos de ansiedade e depressão.
A ciência aponta que os efeitos ambientais do clima também têm reflexos diretos na nossa saúde: mais congestionamentos devido a inundações elevam a emissão de poluentes, e as inversões térmicas naturais no inverno podem aprisionar mais poluentes na baixa atmosfera, produzindo o chamado “ozônio ruim” (HowStuffWorks).
2. Cidades e Infraestrutura
A vida urbana está sob pressão: a expectativa é de chuvas cada vez mais frequentes e intensas, ondas de calor e vendavais. Tais eventos extremos sobrecarregam a infraestrutura das cidades, exigindo que os governantes repensem sua dinâmica a fim de garantir uma adaptação frente a esses fenômenos. No dia a dia, isso é traduzido em problemas como:
Inundações urbanas: eventos extremos sobrecarregam a infraestrutura urbana, colocando em risco sistemas de drenagem, transporte, abastecimento de água e energia. Tais fenômenos (como chuvas torrenciais, enchentes, ondas de calor e ressacas) tendem a se tornar mais frequentes e intensos com as mudanças climáticas, o que pode acarretar prejuízos sociais e econômicos significativos. Diante desse cenário, torna-se essencial que as cidades sejam redesenhadas e adaptadas, incorporando princípios de resiliência urbana, planejamento sustentável e infraestrutura verde, com o intuito de resistir e se recuperar dos impactos desses eventos de forma mais eficiente e segura.

Ilhas de Calor: cidades com muito concreto e poucas áreas verdes ficam significativamente mais quentes. Nesses casos, a diferença de temperatura superficial pode chegar até 10ºC. Esse calor consequentemente aumenta a demanda por energia elétrica para resfriamento dos ambientes, como por exemplo, o uso de ar-condicionado. O uso desses aparelhos, por sua vez, gera mais calor e deixa o nosso planeta cada vez mais quente (Superinteressante).

Nível do mar: a elevação do nível do mar ameaça as cidades costeiras ao longo do globo, podendo levar ao refluxo nos sistemas de esgotamento sanitário que funcionam por gravidade. No Brasil, essa ameaça tem ainda maior gravidade uma vez que grande parte da população vive próxima à costa. Segundo o Censo Demográfico de 2022, 54,8% da população brasileira — ou seja, cerca de 111,3 milhões de pessoas — residem a até 150 quilômetros da linha costeira (UOL). Além disso, 16 capitais do país estão dentro dessa mesma faixa, abrangendo capitais de quase todas as regiões costeiras (G1). Para ilustrar o tamanho do problema, A Época Negócios (Globo), com base em um estudo publicado na revista científica Environmental Research Letters, destacou uma iniciativa do Climate Central, organização que criou uma série de imagens — desenvolvidas com o auxílio de programas de edição e fotos de satélite — mostrando como podem ficar cerca de 100 cidades costeiras de 39 países, incluindo o Brasil.

3. Economia e Alimentos
No campo econômico, o setor agrícola é um dos mais vulneráveis. Padrões irregulares de chuva e calor extremo levam a safras imprevisíveis e prejudicadas. Isso resulta na escassez de alimentos em algumas regiões e pressiona os preços no mercado global.
A Ciência na Busca por Soluções
A ciência não se limita ao diagnóstico dos problemas ambientais, ela atua como força motriz na construção de soluções plausíveis e concretas. É por meio da pesquisa científica que as estratégias de mitigação são desenvolvidas. Muitas destas pesquisas estão voltadas para a redução das emissões de gases de efeito estufa e à transição para matrizes energéticas mais limpas — como por exemplo as energias hidrelétricas, solares e eólicas. Além disso, buscam estratégias de adaptação para minimizar os impactos inevitáveis das mudanças climáticas sobre ecossistemas, cidades e populações humanas. Dessa forma, o conhecimento científico orienta políticas públicas, busca por inovações tecnológicas e decisões globais fundamentais com o intuito de garantir um futuro ambientalmente mais sustentável.
Esses avanços se materializam em diversas frentes, onde a ciência e a tecnologia deixam de ser apenas instrumentos de diagnóstico e passam a ser agentes de transformação concreta.
- Energias renováveis: a pesquisa e o desenvolvimento nos dão a capacidade de transitar para uma economia verde, fruto de fontes renováveis, como a energia solar e eólica, que são essenciais para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e, consequentemente, a liberação de gases do efeito estufa na atmosfera.
- Infraestrutura resiliente: a ciência projeta soluções de adaptação, como a implementação de barragens com bombeamento para evitar o refluxo de rios em Londres devido ao aumento do nível do mar (G1). O planejamento urbano sustentável também busca ampliar as áreas verdes, com iniciativas como os telhados verdes na Alemanha, que ajudam a combater as ilhas de calor e melhorar a qualidade do ar (Confea).
- Ferramentas de decisão: iniciativas baseadas em dados científicos fornecem subsídios para o planejamento da adaptação e tomada de decisão governamental, com plataformas que detalham as intervenções necessárias em diferentes cenários. Além disso, a ciência desenvolve modelos preditivos de clima, aprimora sistemas de alerta precoce e fortalece o monitoramento de eventos extremos, por exemplo, no Rio de Janeiro em 2025, onde a Defesa Civil emitiu alertas de ventos fortes e condições climáticas severas em diversas cidades litorâneas, reforçando a importância desses sistemas de aviso antecipado (G1). Esses alertas são essenciais para mobilizar recursos, dar orientações à população, ativar protocolos de evacuação e mitigar riscos. Isso demonstra como o investimento em ciência, meteorologia e tecnologia de monitoramento se torna uma linha de defesa crítica nas cidades costeiras, ainda mais aquelas mais vulneráveis.
A crise climática pede mais do que preocupação: ela exige ação conjunta. Enfrentar esse desafio depende da colaboração entre governos, empresas e cada um de nós. Só juntos podemos transformar conhecimento em mudança real. A ciência é o elo que nos guia nesse caminho: ela nos mostra, com evidências, por que precisamos agir, e nos dá as ferramentas para construirmos um futuro mais sustentável para as futuras gerações.
Sugestões de leitura e audiovisual para saber mais sobre o tema:

Livro “A sexta extinção”, de Elizabeth Kolbert.

Livro “Como evitar um Desastre Climático”, de Bill Gates.

Documentário “Em busca dos Corais”, disponível na Netflix.

Série “Nosso planeta”, disponível na Netflix.
Autor: Renan Garibaldi / Mestrando PPCTE – CEFET/RJ
Referências Bibliográficas
CNN BRASIL. Mortes por calor extremo aumentaram 167% entre idosos nos últimos 33 anos. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/mortes-por-calor-extremo-aumentaram-167-entre-idosos-nos-ultimos-33-anos/ . Acesso em: 4 out. 2025.
CONFEA. Stuttgart tem 60% de cobertura verde. Disponível em: https://www.confea.org.br/index.php/stuttgart-tem-60-de-cobertura-verde . Acesso em: 5 out. 2025.
ÉPOCA NEGÓCIOS. 8 imagens revelam como aumento da temperatura vai afetar várias cidades do mundo. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Um-So-Planeta/noticia/2021/10/8-imagens-revelam-como-aumento-da-temperatura-vai-afetar-varias-cidades-do-mundo.html . Acesso em: 9 out. 2025.
G1. Barreira do Rio Tâmisa protege Londres de enchentes e marés altas há 40 anos. Disponível em: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2024/06/07/barreira-do-rio-tamisa-protege-londres-de-enchentes-e-mares-altas-ha-40-anos.ghtml . Acesso em: 5 out. 2025.
G1. Cariocas recebem alerta extremo da Defesa Civil pela 1ª vez. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2025/01/29/cariocas-recebem-alerta-extremo-da-defesa-civil-pela-1a-vez.ghtml . Acesso em: 5 out. 2025.
G1. Censo 2022: IBGE divulga dados de setores censitários. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/censo/noticia/2024/03/21/censo-2022-ibge-setores-censitarios.ghtml . Acesso em: 4 out. 2025.
HOW STUFF WORKS. Ozone Pollution. Disponível em: https://science.howstuffworks.com/environmental/green-science/ozone-pollution.htm . Acesso em: 4 out. 2025.
INSTITUTO BUTANTAN. Mudanças climáticas contribuem para a proliferação do animal mais letal para o ser humano: o mosquito. Disponível em: https://butantan.gov.br/butantan-educa/mudancas-climaticas-contribuem-para-a-proliferacao-do-animal-mais-letal-para-o-ser-humano-o-mosquito . Acesso em: 4 out. 2025.
SUPER INTERESSANTE. Seu aparelho de ar-condicionado está deixando o planeta mais quente? Disponível em: https://super.abril.com.br/ciencia/seu-aparelho-de-ar-condicionado-esta-deixando-o-planeta-mais-quente/ . Acesso em: 4 out. 2025.
UOL. Censo: litoral do Brasil concentra 26% da população em apenas 2% do território. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2024/03/21/censo-litoral-brasil.htm . Acesso em: 4 out. 2025.