Desde os anos 1960, estudos sobre ciência e tecnologia têm demonstrado que essas áreas não são neutras nem independentes da sociedade — pelo contrário, são influenciadas por ela e também a influenciam. Como vivemos em uma sociedade historicamente moldada sob uma lógica de dominação masculina, esse modelo tende a se refletir também na forma como o trabalho científico é organizado.
Nesse contexto, surgem perguntas importantes: As mulheres participaram e participam ativamente da construção do conhecimento científico? Existem incentivos suficientes para essa participação? Elas têm as mesmas oportunidades que os homens?
Protagonistas que inspiram
A história da ciência foi, por muito tempo, contada quase exclusivamente por vozes masculinas. Isso não significa, no entanto, que as mulheres estiveram ausentes — elas sempre estiveram presentes, mesmo quando silenciadas ou invisibilizadas. Embora nem sempre reconhecidas, suas contribuições foram (e continuam sendo) fundamentais para o avanço do conhecimento.
Entre os muitos exemplos de mulheres que revolucionaram a ciência, destacam-se:
- Marie Curie, que descobriu os elementos polônio e rádio, abrindo caminho para a radioatividade na medicina, sendo a primeira pessoa a receber dois Prêmios Nobel.

Rosalind Franklin, cujo trabalho com imagens de difração de raios X foi essencial para a descoberta da estrutura do DNA.

Katherine Johnson, matemática da NASA cujos cálculos foram cruciais para o sucesso das missões espaciais, incluindo a que levou o ser humano à Lua.

Jaqueline Goes de Jesus, cientista brasileira que coordenou o sequenciamento do genoma do coronavírus em tempo recorde, tornando-se um símbolo da ciência liderada por mulheres negras no Brasil.

Essas mulheres desafiaram padrões, abriram caminhos e mostraram que o lugar da mulher é onde ela quiser — inclusive nos laboratórios, universidades e centros de pesquisa. Hoje, meninas e jovens podem se ver representadas e sonhar com o futuro como cientistas, engenheiras, astronautas e tecnólogas.
Apesar disso, a atuação das mulheres na ciência ainda é subestimada e subvalorizada — embora muito mais expressiva do que geralmente se divulga.
O desafio da inclusão
Apesar dos avanços, o caminho para a equidade ainda é repleto de barreiras. Muitas mulheres continuam enfrentando a chamada segregação territorial, sendo direcionadas a áreas menos valorizadas da ciência, e a segregação hierárquica, que dificulta seu acesso a posições de liderança.
Segundo dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) de 2025, embora as mulheres sejam maioria nas bolsas de mestrado (54%) e doutorado (53%) concedidas pelo CNPq, ocupam apenas 35,5% das bolsas de produtividade, que são destinadas a cientistas com carreira consolidada e destaque acadêmico.
Esses números mostram que a inclusão de mulheres na ciência não é apenas uma questão de justiça ou reparação histórica — é também uma necessidade estratégica. A ausência de diversidade significa perda de olhares, ideias e soluções que enriquecem o conhecimento científico.
Para enfrentar essa desigualdade, o MCTI tem desenvolvido programas de incentivo à participação feminina na ciência, e a questão também vem ganhando espaço no Legislativo, com projeto de lei voltado à redução das desigualdades de gênero no setor científico.
Ciência com equidade é ciência melhor
Garantir o protagonismo das mulheres na ciência significa criar ambientes mais inclusivos, com políticas de incentivo, combate ao assédio, acesso equitativo a bolsas e financiamentos, além de ações de visibilidade e valorização.
Também é fundamental promover a educação científica desde cedo, rompendo estereótipos que afastam meninas das áreas exatas e tecnológicas. A curiosidade, a criatividade e o pensamento crítico não têm gênero — a ciência deve ser um espaço para todos.
Conclusão
Mulheres na ciência não são exceção. São regra que precisa ser reconhecida, fortalecida e celebrada. Ao ampliar o protagonismo feminino na produção de conhecimento, ganhamos todos: a ciência fica mais rica, mais justa e mais representativa da sociedade.
A inclusão já começou. E o protagonismo das mulheres é, cada vez mais, o motor de uma ciência que transforma o mundo.
Indicação de livros :
As Ciêntistas . 50 mulheres que mudaram o mundo – Rachel Ignotofsky

101 mulheres incríveis que transformaram a ciência – Claire Philip

Autora : Clara dos Santos Baptista ( Doutoranda no Programa de Pós – graduação em Ciência,Tecnologia e Educação – PPCTE/CEFET-RJ). Contato : clarabaptista92@gmail.com
Referências:
BARROS, Regina Lourenço de. Ciência, tecnologia e gênero: a participação da mulher no campo científico e tecnológico. Revista Brasileira de Pós-Graduação – RBPG, Brasília, v. 18, n. especial, p. 1–21, jul./dez. 2022.
MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO (MCTI).
Mulheres já são maioria nas bolsas de mestrado e doutorado, mas ocupam apenas 35,5 % das bolsas de produtividade. Site do Governo Federal, Brasília, 11 fev. 2025. Disponível em: https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/noticias/2025/02/mulheres-ja-sao-maioria-nas-bolsas-de-mestrado-e-doutorado-e-ocupam-apenas-35-5-das-bolsas-de-produtividade. Acesso em: 28 jul. 2025.